segunda-feira, 11 de maio de 2009

Plínio Marcos "Artista Marginal"


Autor santista que foi estivador, jogador de futebol, camelô, palhaço Frajola, que sequer concluíra o primário, é o protagonista do único acontecimento da cultura brasileira comparável ao surgimento de Machado de Assis.
Porém a enorme diferença entre os tempos que separam Machado de Plínio Marcos produziu marcas no gênio dos dois artistas: se para Machado foi possível tornar-se o narrador cáustico de uma sociedade carioca a qual se alçara pelo mérito de seu intelecto, encarnando o milagre da ascensão social em um país de escravos, para Plínio essa saída não existiu. E talvez seja para neutralizar essa marca viva, incômoda, da existência sem capitulação de Plínio Marcos, que ainda hoje alguns o chamam "artista marginal", quando deveriam chamá-lo artista autêntico.
Um tempo mau. Foi assim que Plínio registrou as décadas de sessenta e setenta, quando ele escreveu as obras que o consagraram. Um tempo marcado pela ditadura política e pela repressão militar.
Escritor cujas personagens não têm propósito revolucionário, nem a encantadora ingenuidade dos malandros conhecidos até então; os malandros de Nelson Rodrigues, Guarnieri e Ariano Suassuana. Antes, revelavam um rancor e um ressentimento nunca vistos na dramaturgia brasileira, personagens habitantes de um estranho mundo de desocupados, bandidos, prostitutas, homossexuais, que na avaliação de Décio de Almeida Prado, não se constituíam propriamente nem povo, nem proletariado. Personagens habitantes de um mundo subterrâneo em plena ditadura. Mas que em geral, não sonhavam com a liberdade, nem tinham consciência de uma engrenagem política a esmagá-los.
Sonia Regina Guerra comenta que desprovidas de consciência política, as personagens de Plínio terminam, mesmo assim, por subverter todo o esquema do teatro esquerdizante em voga nos anos sessenta e setenta. Suas personagens não trazem nenhuma mensagem otimista ou positiva, no sentido de que fosse possível guardar alguma esperança de mudança do quadro social, mesmo que em um futuro próximo ou remoto. Seu único idealismo, afirma Sônia, é subsistir, “seja como for, sem solidariedade de classe e sem confiança no próximo. Suas personagens debatem-se num mundo que não oferece nenhum vislumbre de redenção, envolvidas em situações mesquinhas e sórdidas, onde a luta pela sobrevivência e pelo dinheiro não tem a menor dignidade e, via de regra, enveredam para a marginalidade mais violenta para atingir seus objetivos”, completa a pesquisadora.
Ronaldo Lima Lins refere-se a Plínio como um Górki brasileiro, alguém que traz a ralé dentro de si, e por esse motivo resolveu o problema da autenticidade de suas personagens.
Há uma dor e uma angústia terríveis dentro de cada personagem de Plínio. É certo que tais desconfortos são nitidamente resultantes da condição social em que se encontram.
Mas não podem ser apenas isso. Décio de Almeida Prado, quando analisou o fenômeno em que Plínio transformou-se na segunda metade dos anos sessenta, disse que os textos atribuíam ao social apenas a função de pano de fundo, ou seja, de fábula, de história, de trama, concentrando-se nos conflitos interindividuais, forçosamente psicológicos.
“Sábato Magaldi, por sua vez, em uma das muitas análises que fez da obra do Plínio, afirmou que ela quebrava as últimas convenções do nosso palco e definia um novo momento em nossa dramaturgia”.
Plínio vai perseguir em sua dramaturgia a compreensão do problema ético fundamental, qual seja, a existência do mal, tanto no indivíduo quanto na sociedade. E esse é um problema que deita raízes na mais longínqua e escura noite da história.

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